(*) Por Stephane Zalcman
As mulheres estão cada vez mais exaustas em razão da rotina no ambiente doméstico, profissional e até mesmo, no pessoal – na maior parte das vezes em todos, ao mesmo tempo.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), fatores psicossociais – interações entre meio ambiente e condições de trabalho – podem ser de proteção, quando são benéficos e promovem a saúde integral, ou de risco, quando causam prejuízo à saúde da pessoa. A sobrecarga física e mental de trabalho pode levar ao cansaço excessivo, desmotivação e ao desenvolvimento de doenças.
O desequilíbrio entre homens e mulheres na divisão do trabalho doméstico e parental e nos cuidados com outras pessoas, incluindo amigos e parentes, é um dos fatores que pressiona demasiadamente as mulheres.
Antes da pandemia, dados do IBGE de 2019 mostraram que a mulher já dedicava, em média, 18,5 horas semanais a tarefas domésticas e cuidados com pessoas da família, crianças e idosos.
Por sua vez, os homens dedicavam 10,3 horas semanais nessas mesmas atividades. Com a vida “de volta ao normal”, a carga aumentou.
De acordo com o relatório “Esgotadas”, da ONG Think Olga, hoje, elas dedicam, em média, 21,4 horas semanais às tarefas domésticas enquanto eles, quase a metade disso, 11 horas.
Na pandemia, elas estiveram extremamente cansadas, preocupadas com a manutenção de seus empregos, com a carga de trabalho e com a renda familiar, além de cuidando dos filhos sozinhas com a falta de rede de apoio no isolamento.
Para muitas mulheres, a situação ocasionada pela pandemia permanece até hoje, pois o home office transformou a casa, que era o seu lar e uma válvula de escape para o estresse do trabalho, em um escritório.
A rotina profissional passou a se misturar com as tarefas do dia a dia. De lá pra cá, a taxa de mulheres brasileiras que já tiveram diagnóstico de ansiedade (27%) e depressão (20%) tem sido o dobro da registrada entre os homens (14% e 10%, respectivamente), segundo pesquisa Datafolha recente.
Diversos estudos apontam que o esgotamento mental, também conhecido como síndrome de burnout, é 25% maior entre as mulheres. As mulheres são as mais atingidas pelo problema por suas características femininas ligadas ao perfeccionismo e à vocação para a proteção. Tomam para si obrigações domésticas e familiares, e comumente se sentem devedoras e insuficientes, acreditando sempre, que em alguma área estão deixando a desejar.
A sobrecarga de trabalho, dentro e fora de casa, a pressão financeira e o desafio de conciliar múltiplas tarefas, incluindo a rotina de cuidados com crianças e idosos, estão entre os fatores que mais têm impactado a saúde emocional das mulheres no Brasil, de acordo com o relatório “Esgotadas”. A jornada excessiva de trabalho foi a segunda causa de descontentamento mais apontada por mulheres na pesquisa.
Mulheres em todos os níveis sociais e cargos precisam de atenção com a saúde mental. Segundo o levantamento Women in the Workplace 2021, as mulheres na liderança, responsáveis pela gestão de equipes, apresentam níveis ainda mais elevados de esgotamento, com mais de 50% das gerentes entrevistadas revelando que costumavam ficar ou quase sempre ficavam, esgotadas.
Excesso de responsabilidade, ausência de apoio frente a tarefas que exijam alto grau de execução, além das cargas e pressões frequentes a fim de resguardar e garantir respeito e reconhecimento frente aos colegas de trabalho, estão entre os motivos do problema entre as líderes. Também pesa o fato de que, apesar de terem mais estudo, a renda feminina ainda é inferior à dos homens na liderança. Exaustão, irritabilidade e a sensação de que não se consegue dar conta de tudo estão entre as principais características dos pacientes identificados com a síndrome de burnout.
Em geral, aquelas que têm ambição mais notória, acentuado impulso competitivo, se cobram muito, são perfeccionistas e que consideram muito a opinião alheia, além de pessoas muito estudiosas e apaixonadas pelo trabalho, como eu, são as mais afetadas pela síndrome.
Se superar, significa também extrapolar e, assim como tudo na minha vida, sempre quis fazer e dar mais do que muitas vezes o meu corpo me permitia. Foi quando, há cinco anos, tive um AVC transitório em decorrência de uma crise de burnout. O AVC me fez enxergar que precisamos dar mais valor à nossa saúde, à nossa família e ao nosso entretenimento, deixando de lado, inclusive, amizades que cobram mais do que dão, pois isso também acaba consumindo e muito as mulheres e todos estes fatores precisam de atenção redobrada.
Precisamos aproveitar tudo o que as realizações podem nos oferecer de bom, e ter uma vida plenamente saudável, cuidando da mente, do corpo, da alimentação e do sono – senão, de que vale tanto esforço? Na família, precisamos seguir a orientação das aeromoças em relação ao uso de máscaras de proteção: precisamos cuidar de nós em primeiro lugar, para que possamos cuidar dos nossos, depois também.
O amor próprio deveria ser a meta de qualquer pessoa, pois é fundamental que estejamos bem, para poder amar os outros também. Não se cobre tanto! Não é sua obrigação carregar tudo nas costas, não é sua obrigação fazer com que todos fiquem bem.
Não adianta desabar aos poucos, para sustentar os outros em pé. Não é egoísmo pensar um pouco em você. Pense nisso!
(*) Stephanie Zalcman é diretora Técnica de Operações e Estruturação da Wiz Soluções em Seguros e diretora Operacional da Sou Segura (Associação das mulheres no mercado de seguros)
(Fonte: www.agenciasegnews.com.br)